Imigração italiana no Brasil
É difícil não se interessar pelas histórias fantásticas, às vezes mágicas, contadas pelos avós sobre o período da imigração – alguns se emocionam, com razão, ao saber das dificuldades e superações dos italianos recém chegados no Brasil. Daria até para dizer que essa, na verdade, é uma história única, que ainda hoje agrega os descendentes de uma geração que se aventurou na terra e no mar por um sonho de futuro.
De fato, não foram poucos. A estimativa é que entre 1850, época do ínicio da imigração, até 1960 tenham chegado ao Brasil cerca de 1 milhão e 500 mil italianos. A maioria saiu do Norte do país, principalmente da região do Vêneto, embarcando no porto de Gênova e chegando no Brasil por São Paulo e espalhando-se por todos os estados, principalmente os do Sul e do Sudeste.
Não é por menos que conseguimos reconhecer tantas contribuições da cultura italiana no Brasil, desde heranças culinárias até de produção industrial, passando pela música, pela arte, pela agricultura e, inclusive, mudando a nossa língua, como você pode ver aqui.
E foi mesmo o discurso que impulsionou os italianos a deixarem sua terra de uma vez por todas. É comum nos perguntarmos, principalmente em tempos como os nossos, o que motivou um europeu a imigrar para o Brasil. Bem, foram vários diferentes fatores – e invariavelmente a pobreza.
Lá pela metade do século XIX, a Europa estava passando por um momento de profunda transformação social e econômica, deixando para trás um sistema feudal e o substituindo por uma lógica de produção capitalista. Isso foi ao mesmo tempo causa e consequência de um forte processo de industrialização e de uma mudança de comportamento dos donos de terra, que passaram a cobrar altas taxas sobre suas propriedades. Isso empurrou os camponeses para a cidade, porque eles já não podiam pagar mais do que produziam, e em pouco tempo não sobrou vagas de trabalho, deixando grande parte da população na miséria.
Concomitantemente, a Itália, que estava sofrendo um boom de nascimentos, também se interessou em exportar mão de obra – e o Brasil estava louco por gente que desse duro no campo, principalmente em áreas como a do café, cuja produção ia de vento em popa.
Não só isso. Vale lembrar que nas mesmas décadas estavam começando a fazer sucesso as ideias abolicionistas no Brasil, que ainda assim esperou ate 1888 para pelo menos no papel acabar com a escravidão. Entretanto, em 1850 o país já tinha sido pressionado pela Inglaterra para impedir o tráfico negreiro. Precisava-se, portanto, de novos trabalhadores.
Pra ajudar, o darwinismo e a defesa de uma evolução social também estavam super em alta- e foi o bastante para que o governo achasse uma ótima ideia “branquear” a população através da miscigenação dos nativos com os Europeus, que, além de tudo, eram católicos, o que de acordo com os estudiosos da época, era um ótimo sinal.
Unindo o útil ao fácil, a ideia foi dar uma leve enganada no pessoal que já estava bastante desesperado na Itália. Começou-se a vender o sonho da terra, onde tudo era maravilhoso e próspero. Só que não foi bem assim, sabemos bem.
O povo recém chegado precisou trabalhar muito para sustentar a família, educar as crianças e ambientar-se no novo continente. Em resumo, precisou-se começar tudo do zero e, hoje, é por isso que nos orguhamos tanto da narrativa heróica de nossos antepassados que, em um lugar novo e totalmente diferente da sua terra natal, fizeram não só morada, mas cultura, música, arte e muito trabalho.
Em resumo, fizeram História. E nós, descentes, somos gratos por isso.